quinta-feira

Carta para Perpétuo

Perpétuo Destino,
que tal 2010? Pregou-me algumas peças, mas creio que me saí bem na maior parte delas.
Abandonou-se algumas vezes, à mercê de sua irmão hermafrodita, Desejo, porém poucas vezes. Não tirou-me a aura. Sua sombra me persegue, e ainda hoje penso por que e por que não. Acho que a resposta é que o antônimo do amor é o amor próprio. Resta saber se o amor próprio é próprio para mim.
No início do ano, afastou meu irmão. Justo, bom para ele, mas doloroso a longo prazo. Não é verdade que a valorização vem com o tempo? Não é, mas aconteceu.
No outono, você esperou longamente até que todas as minhas esperanças fossem embora para dar o que eu queria, e sou plenamente grata. Dessa enorme caixa saíram preciosidades que felicitaram meus dias já definitivamente extra-placentários.
No inverno, tirou-me grande parte das minhas amizades verdadeiras. Tudo culpa de sua irmão, embora o direcionamento subjetivo seja outro. Tirou-me meu avô... doloroso, mas justo. Virou mito.
Na primavera, deu-me belas paisagens, inesquecíveis, embora as lembranças fortaleçam em mim o desejo de fuga em planos imperfeitos.
E, por fim, nesse novo verão, evaporou minha compaixão tentando dar espaço à individualidade. Juro que darei meu melhor.
Em breve, um novo ano para nós. Jogue os dados e eu roubarei.
De sua Kiril.

PS: Ainda prefiro Deus.

segunda-feira

das Dores

Uma noite para sentir.
O dilema da droga que deixou o viciado.
E aquela lembrança senil que se aproxima. O brilho que nunca acabou. Nunca secou.
Ódio e um anel de espiral.
Trouxe de lá. Trouxe mar.
Uma noite para expulsar o mar.

"...é feita de grão em grão..."

quinta-feira

Doce de placebo

Hoje fazem dois meses e é o primeiro aniversário dela sem ele, em mais de cincoenta anos.
E aquelas pessoas que vêm sentir o vazio. Na presença placebo, constante atuação de quem finge que entende, e finge que ainda sente, muito.
Ela, na constante tentativa de dizer, de expressar, e nada. Gestos e sons.
Apenas tentativas. Apenas doces. Apenas mais um dia. Apenas mais um mês.

Singelo

Singelo gesto na véspera - agora já não tão véspera.
Como uma pena numa praça, que pousa num livro esperando uma página marcar.
Marcar [sem passar despercebido].
Tez.

Puzzled

Você, que finge que o quebra-cabeças não está errado.
Você, que finge falta de excesso de pudor.
Você, que finge nunca ter cultivado.

Eu, que finjo (não) me preocupar com os pobres persuadidos por pervertidos.

quarta-feira

Nunca-mais

Dois travesseiros de cores claras. Um leito sozinho.
Nas paredes e por todas as outras partes já não visíveis, nunca-mais.
Você fez a coisa errada. Por 96 horas, você fez a coisa errada.
Nunca-mais. Nunca-mais. Nunca-mais.

sexta-feira

Um mês, uma vida.

Hoje faz um mês.
Parece muito pouco, quando a distância da ausência parece tão grande.
Somente reforça aquilo que venho aprendendo há uma década: para saudades não existe quantidade e nem compensação. Pode parecer pouca quando o tempo de falta é pequeno, mas depois de um certo período se estabiliza, afiada e definitiva.
E essas saudades, em especial, são as mais tristes, afiadas e definitivas que possam existir... As saudades que nunca deixam esquecer.

Faz um mês. Faz uma vida.

sábado

Espaços Vazios

E os espacios vazios nunca estiveram tão vaziios.
Setas incertas, e não há respostas no verso.
Apenas versos.
Versos num balanço vazio.
Sobre os mais brilhantes olhos que já se fecharam, e as mais pesadas lágrimas que já caíram.
Não precisamos dos seus sentimentos ou seus óculos escuros.
Agora nos interessa o Céu.

segunda-feira

Assombração

Veio e contou-me muito sobre as Ninguém. Na verdade, contou-me pouco: acha-as pouco.
"As Ninguém são as que não são. As Ninguém não são tão bonitas. As Ninguém não são tão irônicas. As Ninguém não têm o corpo. As Ninguém não têm tanta inteligência e não lêm tantos livros. As Ninguém simplesmente não são. As Ninguém eu não posso, as Ninguém eu não consigo."
Quê mais, Criança da Janela, quê mais? As Ninguém não são tão maldosas, grossas e onomatopeicas? As Ninguém não são tão cínicas e metafóricas? As Ninguém não são tão assombrosas?
Procure uma Ninguém. Tu encontrarás alguém.

sábado

Teleantropofagia

E depois de tudo isso que se tem tentado veementemente ignorar, eu só preciso ser absorvida. Por qualquer coisa que se mova, tenha rostos e sons, que não dependa de mim, mas que venha a mim, ou a qual eu vou... eu só preciso de uma teleantropofagia. Ser absorvida por, pode ser, é, pode ser, ser absorvida pela tevê.

segunda-feira

Na teia

Presa na teia das cinco pontas.
Sem escapatória na teia das cinco pontas.
Na teia das cinco pontas indesejáveis. As cinco pontas que não levam a lugar algum.
As cinco pontas da aranha que não enxerga a presa. A presa presa que já não é mais presa. Já um esquecimento. A não-mais-presa esquecida.
Esquecida na teia das cinco pontas.

quinta-feira

Ora,

E, vejam, este é o meu aposento, onde repousa toda a ignorância, o egoísmo e a canalhice da caixa de Pandora.
Estejam todos à vontade pelo resto dos ambientes, ora, enquanto suas vontades forem as minhas vontades. Enquanto seguirmos o padrão. Enquanto eu estiver confortável.
Todos à vontade....

Uma dose de alcohol. Uma camisa de força. Uma dose de força...

Violet Violence

Retalhos de roupas sobre o piso de madeira. Por um sorriso perverso sofredor. Violet violence (you should learn how to say no). Retalhos de pessoas pelos cantos. Tem algo no seu rosto. Violet violence (go on, take everything). No azulejo onde dois fios de cabelos diferentes se encontram. Sangue. Tem algo no seu rosto.
Violet violence (go on, take EVERYTHING).

sábado

Vale a Pele

Enquanto assistia ao filme pensei no câncer de pele. Eu morro de medo do câncer de pele... afinal, é a pele. Todo mundo vê a pele. Não vê?
Mas, eu fiquei então pensando, em como eu me preocupo em não "pegar" câncer de pele enquanto vou caminhar de dia, seja sol ou seja nuvem, seja ao ar ou atrás de um vidro de ônibus.
E pensei em Alex Supertramp. Ele não usou o bloqueador solar durante aquela longa viagem de deserto, corredeiras, neve, hippies, vovôs e colheita de trigo.
Eu também não me preocuparia em bloquear o sol ou bloquear o que quer que fosse no lugar dele. Uma experiência como aquela faz valer o câncer de pele ou qualquer outro problema, literalmente, superficial.
O que seriam manchas na pele quando vindas de tamanha carga de experimentações e privações, na Natureza Selvagem? Comparadas às manchas que a vida de maiores privações e falsas recompensas deixam em nós? Manchas em lembranças, manchas em longas páginas vazias de dias em que nada, absolutamente nada, acontece, sem falar nas manchas na reputação - Aviso: assunto polêmico, não refletir sobre reputação - e as manchas que nós deixamos sob a pele dos outros.

A Natureza de cada um, Selvagem ou não, vale a pena. Vale a pele.

quinta-feira

Obrigada pelo Tango

Obrigada, oh meu amor, pelo tango em gramados imobiliários e praças de alimentação. Obrigada pelas flores e desenhos em cartas perfumadas. Obrigada pelas piadas internas com direito a língua presa e vozes alienígenas. Obrigada pelas danças jungle drum. Obrigada pelos registros divertidos do que um dia se pôde chamar Mundo Perfeito. Obrigada pelos passeios das madrugadas e os carinhos das manhãs. Obrigada por compartilhar da sanidade infantil, e fazer viver um passado inexistente. Obrigada por ser tão eu, tão eu mas tão longe a ocupar um espaço incômodo.
Obrigada pelo fim da dança, com direito a lamentos e respeito.
Com eterna admiração, ao meu melhor amigo.

segunda-feira

Serpentes

Caíram e fizeram barulho. Um tanto melódico, outro tanto coerente - por demais? - , mas ruidoso. Alarmante e decisivo.


Cortem-lhe as algemas!

sábado

Palavrões e Perspicácia

E quando reaparece o Artifício é em palavrões e perspicácia que ela pensa... Tamanha foi a perspicácia, que leva aos palavrões.
Teria sido a mudança de "perfume"? Teria sido uma mudança inconsciente do corpo refletindo o interior? Ora pois, que mudara, mudara. Mudara, e o mundo percebera... e Artifício percebera, e se aproximara, discreta e definitivamente, como a serpente de Eva: Tentação.

Friday I'm not in love...

domingo

No puedo...

E então ela se pergunta, seria Sonho seu melhor companheiro?
Só poderia, se era ele que providenciava tudo de mais extravagante e realizador naquela vida regrada incomum...
Pois enquanto Sonho não vinha tudo o que sobrava eram pulsos. E os pulsos brigavam, para conquistá-la ou mantê-la, com intensidade, até que toda a sua mente pudesse ser conquistada e repleta de lembranças, esperanças passageiras e o que mais pudesse haver de perturbador.

Um brinde, pela liberdade de escolha?

"No puedo, no puedo..."

sexta-feira

Mais espaço e menos ar

Se eu quero dormir? Não, acho que quero acordar... mas está tarde pra acordar, tarde pra levantar e... tarde, bem tarde, dezenas de meses tarde, o grande sonho está (per)fei(t)o do modo que se desejava, e agora, então, acordar, só para checar se algo mais amanhece?
Não, agora eu estou cansada e sozinha, como devo estar, cansada e sozinha, cheia de espaço por fora e Ocupados por dentro.
Somente continuar, eu mesma.
Acho que agora, agora quero dormir...

segunda-feira

Flor Renascida

Vem agora um sentimento, uma vontade de fazer o meu melhor, fazer o melhor dos textos, para a Flor Renascida, no momento nutrida por essas lágrimas de emoção.
A flor mais forte, mais resistente, mais persistente e ao mesmo tempo conformada, enquanto nunca, absolutamente nunca, uma desistente.
A flor que tantos e tantas vezes já tentaram despetalar mas somente fortaleceram.
Uma vez uma senhora muito amável me falou dela com a maior das admirações, ainda maior do que a minha própria naquela idade. "Sua mãe é uma batalhadora", é o que ela me dizia. Ela estava e sempre estará certa, porque essa é a grande verdade: minha mãe é uma batalhadora.
Uma batalhadora, mas não uma ambiciosa. Cheia de humildade e boas intenções, embora às vezes surja o medo do olhar condenador do resto do jardim.
E seja qual for o momento, o contexto, ela segue suas obrigações e seus sonhos, pensando no futuro, indo atrás de seus desejos e da completude - se é que essa existe - , descobrindo mais de si todo dia.
Para a Flor Renascida, a liberdade, a felicidade e o amor sempre.
E aqui fica o meu, junto à minha imensa gratidão por tudo que talvez ninguém compreenda.

sexta-feira

Indesejados Espelhos

Chega um momento.
Chega um momento na sua vida em que você percebe que há pessoas exatamente como você. Pessoas com os mesmos anseios e as mesmas capacidades. E embora você acredite que passou anos da sua vida esperando e procurando por elas, na verdade você não as deseja.
Não quando você percebe que lhe faz mal ser menos "d'elas", menos disso que você e elas são. Você é menos.
E sua capacidade, suas conquistas, sua pueril auto-estima, já não são suficientes. Porque o mundo desdiversificou, seus espelhos surgiram e você não os quer, assim, tão grandes e óbvios.
Há um lugar para você no... mundo? Em que mundo? Será que você ainda deseja esse lugarzinho reservado pra você nesse tal de mundo? Pois então é ideal para você, premeditado?
Um lugar, sempre há. Basta saber se ele é realmente seu.

quarta-feira

A Magia do Dobro

Juro-te: ontem senti teu cheiro. Lembra-te, de que eu sempre digo, que nunca esteve em ti de novo o perfume do primeiro encontro, mas de vez em quando ele aparece e me assombra? Pois ocorreu. Desesperou-me, agitou-me.
Sabe, parece que nunca teus olhos estiveram tão brilhantes como desta última vez. Brilhavam, brilhavam demais, e apaixonavam-me. Quem sou eu, tão perto assim desta criatura tão linda?
Tu és um trevo de quatro folhas.
O menininho no carrinho de pedalar, pedalando por diferentes mundos e seres.
Não tens idade... não para mim. Não tens classificação, não entra em nenhuma, não padroniza, ah não.
Manias, vícios, algemas e sonhos.
Vem brincar comigo. Vem tomar um danone da infância e colocar barulhos em nomes.
Vem, encara-me e lê esses olhos. Diz o que lê.
Machuca meus dedos com seus aneis de sultão, acaricia-me o rosto com sua barba atemporal.
Vem e tem gosto de morango doce. Encanta-me...

Encanta-me com teu cheiro.
Quebra-me com teus olhos, quando procuram os meus, parados no extremo da passarela, vendo ir embora. Meu bem, tem-se que ir embora para um dia voltar. Sem despedida não há volta.
E quantas voltas, e que voltas... ser recebida, derrubada e beijada. Poderia ser melhor, poderia?

Amo-te, amo-te com intensidade. Sou uma apaixonada.
Humanos perguntam: mas, é possível?
E não seria? Entre eu e você, poderia não dar certo?
Meu melhor amigo, doloroso quando inimigo.
O braço que enlaça minhas costas, os olhos que me sugam, as pernas que me derrubam, o sorriso que me cativa, o toque que arrepia. A imagem que me faz tremer.
Meu anjo, meu protetor, meu amor, meu Peter Pan.

Eu e você.
Duas almas, dois sorrisos, dois corações, dois anos.
Quem diria? Eu diria.
Você é meu sonhos realizado, o parceiro desejado, ideal pra mim você é.

Amo você, meu doce Thiago.