quarta-feira

Os lares que abandonei

Os lares que abandonei e terei abandonado.
Grandes lares, acho eu. Sempre com espaço suficiente para mim e quem mais quisesse estar acolá.
Meus belos lares de paredes brancas, relogios de ponteiro sem sentido - como é isso agora?? Eu, nesta copa senil, ouvindo apenas o relógio, não sinto o tempo passar?? - , frutas azedas e proverbiais, pianos e órgãos ou simplesmente uma máquina de costura com pedal, poucas janelas e muito ar e luz. Lares de correr pelo quintal, andar descalço, ler gibis em momentos intrigantes, delatar o fogo, delatar o irmão, apartar os primos, desenhar por cima do original, observar as mesmas fotos de sempre com os mesmos protagonistas maravilhosos e para sempre amados. As vezes silêncio, as vezes os passaros, as vezes a voz muda, as vezes gritos de crianças, as vezes risos juvenis.
O meu lar, meu grande lar da arvore de Natal que permanecia anos inteiros, da horta placebo, dos morcegos repentinos, da bola do vizinho. Das janelinhas que nunca terminei de contar, os peixes que nunca alimentei, o braço que nunca quebrei. Meu lar, para sempre, meu lar. Seja qual for a cor, ou o cachorro, ou a campainha, aquele sera sempre meu.
Tambem serão para sempre meus o lar do quintal de cincoenta metros, o lar dos - Uau!! - quartos separados, o lar da estrada, e o lar dos olhos brilhantes.

Lares, pares, mares, familiares.
Que venham mais, que fiquem estes, para sempre lares acolhedores de quem quer que queira sentir.