domingo

Dessa vez, talvez.

Acho que hoje ela está triste. Ela coloca esse vestido dourado, que a faz parecer uma princesa, uma princesa triste e descalça. De cabelos soltos. Descalça, de cabelos soltos e com uma garrafa na mão.
Uma princesa triste e bêbada. Quando está frio, coloca um moletom enorme. Fica ridícula, coitadinha.
Ela acha que é a única. Não é a única, não essa noite. Eu gostaria de ir até lá e ficaria especialmente (in)feliz de, dessa vez, compartilhar tal especial estado de infelicidade. E poderíamos então chorar juntos, enquanto ela faz o vestido girar, e talvez até abrir nossas bocas como em sorrisos bêbados, celebrando toda essa falta de sei-lá-o-quê que, dessa vez, seria minimamente menor com uma mera companhia giratória.

quinta-feira

Pode pular, filho...

"Pode pular, filho, o papai está aqui." O seu pai não estava ali, não estava em qualquer outro lugar, talvez estivesse no céu, não sei. Ele observava a água da beira da piscina, agachado e vigiado pela mãe, aquela por trás dos óculos escuros. Era o que ele sempre fazia, e nunca caiu, nunca tentou pular. Ele não sabia nadar. Mas a dois metros dele, outro menino, menor e barrigudinho, como são os meninos e meninas bem pequenos, erguia e voltava os pés e ameaçava pular, com os braços abertos, mas sentia medo. Logo ali na frente, na piscina, estava o pai do garoto. O pai dizia "Pode pular, filho, o papai está aqui!" e "Pode pular, o papai vai te segurar!", e o garotinho não ia. Num instante, a ilusão se tornou mais forte que a realidade, e ele pulou. Pulou para os braç... Ele não sabia nadar.